Reinaldo Glioche
Produzido por James Wan, mente por trás de "Jogos Mortais" e "Invocação do Mal", filme que estreia nesta quinta-feira (18) no Brasil capitaliza em cima do universal medo de escuro que marca toda infânciaO medo do escuro é um dos mais universais e reconhecíveis do ser humano e é manifestado maiormente durante a infância. Ainda que o cinema de terror explore essa condição, faltam bons filmes articulados essencialmente sobre o medo do escuro. Parte do brilhantismo de “Quando as Luzes se Apagam” (EUA 2016) é corrigir essa omissão. A outra é, tal qual filmes como “Mama”, “A Visita” e “Invocação do Mal 2”, espelhar um drama familiar de maneira inteligente e emocional.
Cena do filme "Quando as Luzes se Apagam"%2C que estreia nesta quinta-feira (18)
Foto: Divulgação
Quando flagramos Rebecca (Teresa Palmer), ao lado de seu namorado Bret (Alexander DiPersia), logo percebemos que ela tem algum ranço em matéria de estabelecer intimidade. Conforme o filme avança, descobrimos que ela saiu de casa, a revelia de sua mãe, Sophie (Maria Belo), e que com ela não mantém um bom relacionamento. Além do mais, o pai desapareceu sem dar notícias.
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A convivência tumultuada com a mãe foi acirrada pela presença de um espírito maligno, com forma feminina, que sempre se fazia notar quando as luzes se apagavam. A mesma presença agora está aterrorizando seu irmão mais novo, Martin (Gabriel Bateman), o que força Rebecca a encarar suas escolhas do passado e tentar desvendar que tipo de poder esse espírito exerce sobre sua mãe.
Medo do escuro é tema do filme
Foto: Divulgação
Há muitas sutilezas em “Quando as Luzes se Apagam” e quase todas elas metaforizadas da relação familiar e da maternidade. David F. Sandberg, que aqui dirige seu primeiro longa-metragem, adaptado do curta que lançou em 2013 de mesmo nome (“Lights out”, no original em inglês), mostra talento por congregar toda essa sutileza com a necessária carga de suspense que oxigena um filme de terror. O prólogo de “Quando as Luzes se Apagam”, para todos os efeitos uma homenagem ao curta que deu vazão ao filme, é das coisas mais brilhantes e assustadoras concebidas no cinema em 2016.
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A elaboração do medo é um interesse contínuo de Sandberg e aí é possível notar a influência de James Wan, grande nome do gênero na atualidade, aqui creditado como produtor. Sandberg sabe da memória afetiva do público em relação ao medo do escuro e sabe, também, que os melhores filmes de terror, mesmo aqueles calcados no sobrenatural, buscam refúgio nas profundezas da mente humana. Por ajustar todo o seu drama aos personagens, e deles extrair o terror que move a história, “Quando as Luzes se Apagam”, se consolida como um dos melhores filmes de terror dos últimos anos.
Narrativamente econômico, visualmente impactante, assustador sem apoiar-se em subterfúgios e com um final que cresce de tamanho à medida que se constata o diálogo com a verdade de todos os personagens que ele estabelece, “Quando as Luzes se Apagam” é o tipo de filme bem resolvido que costuma frequentar lista de melhores do ano.