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Elizabeth Savalla: "As ex-chacretes que vi estão bem longe de charme e glamour"

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Vinícius Ferreira

Aos 58 anos de idade, 38 de carreira, atriz conversou com o iG sobre sua personagem em "Amor à Vida" - a ex-chacrete "Teté Para-choque, para-queda" - e as mudanças na profissão de ator

De cara quase limpa, com alguns quilinhos a mais e desprovida de maiores vaidades além da profissional, Elizabeth Savalla volta às novelas na pele de uma ex-Chacrete, a “Teté Para-Choque e Para-Lama”, que hoje, bem longe dos holofotes, atende por Márcia em “Amor à Vida", na Globo. “Ela é uma mulher abandonada, esquecida, no ostracismo, que perdeu tudo. Acabou o programa do Chacrinha, ela parou de fazer shows, virou prostituta, bateu calçada para sustentar a filha e, quando ficou velha, não conseguia mais nada, e foi vender hot-dog na rua, fugir do ‘rapa’”, diz a atriz, que se diz honrada de poder dar vida a uma mulher guerreira, como tantas outras brasileiras.

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Com 38 anos de carreira, a atriz ecara ainda um outro desafio: contracenar com a estreante Tatá Weneck, já consagrada no terreno da comédia, e que faz agora a sua primeira novela. Questionada sobre se sua longa carreira e o passar do tempo lhe deixou sem paciência com a nova safra, ela garante que não, mas diz que também não está lá pra ensinar ninguém. “Nunca tive problemas com jovens, pelo contrário, aprendo muito. Na verdade, nem seria legal da minha parte ensinar nada, porque estamos fazendo uma troca na cena. No caso da Tatá, ela é uma menina muito talentosa, graciosa, boa gente. Estamos tendo uma relação de mãe e filha mesmo, e como eu gosto muito de comédia, estamos jogando uma bola bem legal”, garante.

Mantendo sempre uma certa distância dos holofotes e do olho do furacão, Elizabeth construiu uma carreira sólida, recheada de personagens marcantes, mas confessa ainda não entender essa fascinação por “celebridades”, palavra que ela garante detestar e da qual não entende o sentido. “Hoje é tudo transitório. A minha geração se preocupava mesmo, nós tínhamos responsabilidade social, e eu não associava minha imagem com coisas que não me agradavam. Esse negócio de glamour é fruto de capas de revistas, dos anúncios. O que a minha profissão menos tem é glamour”, diz.

E sentencia: "Se você não consegue viver sem o palco, sem os aplausos, sem ir atrás da história de outra pessoa para viver aquilo, então não tem jeito, passe fome, divida o apartamento com outros tantos atores e vá ser feliz. Agora, se você quer glamour, tranquilidade, charme, escolhe outra coisa. A nossa profissão depende muito, mais muito mais da sua sorte do que do seu talento e da sua beleza."

Confira o bate-papo completo com Elizabeth Savalla: 


iG: Como foi sua preparação para viver a ex-Chacrete Márcia?
Elizabeth Savalla: Eu não sou de laboratório. Sou de uma geração que pegava o texto, estudava, pensava, criava e ia. No caso da Márcia, como eu ia contracenar com a Tatá, que nunca fez novelas, tivemos um preparador de cena e algumas conversas. Também tive alguns encontros com a Rita Cadilac. Eu não sei imitar ninguém, por isso não faço laboratório. Eu não tenho dom para isso. Eu estive com a Rita para aprender o que ela tem como ser humano, e não para aprender a dançar, os movimentos dela. E olha, ela é uma mulher linda.

iG: Você gostava das Chacretes, do programa do Chacrinha?
Elizabeth Savalla: Eu já era atriz quando as chacretes surgiram. Fiz uma participação no júri do programa, já na fase final. As chacretes eram personalidades, “celebridades” que estavam na moda.

iG: Você já teve o sonho de ser uma chacrete?
Elizabeth Savalla: O que é isso menino? Eu tenho 38 anos de carreira, não é bem assim. Eu sempre quis ser atriz, fazer teatro, viver o meu palanque. Eu não fiz capa de revista, eu não fiz "Playboy", minha trajetória não é essa. Eu sou uma atriz séria, de uma geração como Fernanda Montenegro, como Bibi Ferreira. A gente era uma bandeira política, não uma celebridade.

iG: Ser ator hoje é a mesma coisa do que era quando escolheu essa carreira?
Elizabeth Savalla: Meu pai me deserdou quando disse que queria ser atriz. Na minha época não tinha a conotação de celebridade, as pessoas eram mal vistas. Nós não tínhamos reconhecimento, íamos para Brasília lutar pelos nossos direitos. Antes, a carreira de atriz era como a de uma prostituta, seria como uma diversão. Hoje tudo é muito mais fácil, todo mundo quer ser o Neymar. Nós tínhamos uma responsabilidade política, era outra coisa.

iG: E o sucesso, é diferente agora?
Elizabeth Savalla: Sim, o de hoje é transitório. No meu tempo, o sucesso era sucesso mesmo, as pessoas enlouqueciam, a gente tinha que acabar fugindo. Mesmo assim, nunca deixei de ir ao mercado, fazer minhas coisas. Hoje, o ator está muito distanciado da realidade, e acho engraçado como uma pessoa dessa consegue passar uma realidade com seus personagens se ela não a vive. Esse negócio de glamour é fruto dessas capas de revistas, dos anúncios. O que a minha profissão menos tem é glamour. Ela é completamente desprovida de glamour. A gente trabalha, e trabalha muito. 





iG: Como é para você ter uma pessoa tão nova, como a Tatá Werneck, que nunca fez novelas, para contracenar? Você tem paciência para ensinar?
Elizabeth Savalla: Eu na verdade não estou ali para ensinar nada para ninguém, mesmo porque você pressupõe que as pessoas que estão com você saibam fazer, ou melhor, que sejam atores. Nessa carreira, a gente não ensina, as pessoas têm que nascer com talento. A escola é importante para te dar técnica, mas não para ser bom. Eu nunca tive problemas com jovens, pelo contrário, aprendo muito. Na verdade, nem seria legal da minha parte ensinar nada. Estamos fazendo uma troca na cena, é outra coisa. No caso da Tatá, ela é uma menina muito talentosa, graciosa, boa gente. Estamos tendo uma relação de mãe e filha mesmo, e como eu gosto muito de comédia, estamos jogando uma bola bem legal ali.

iG: Muitos atores da sua geração, como a Marília Pêra já declarou, acham uma tristeza a necessidade de colocar rostinhos bonitos, e nem sempre talentosos, na TV. O que você acha?
Elizabeth Savalla: Cada um tem seu jeito de pensar, mas é obvio que você espera que toda mocinha seja jovem e bonita. Não existe nenhum jovem feio, existem padrões impostos. No fundo, todas nós atrizes estamos querendo ser a mesma coisa, trabalhar, mas a profissão não é fácil para todas.

iG: Não é fácil em que sentido?
Elizabeth Savalla: Mais do que ter talento, você precisa ter sorte. Precisa estar na hora certa e no lugar certo. Existem muitos atores mais velhos e mais experientes que eu que não tiveram a mesma sorte que eu tive. 


iG: Você é vaidosa, se preocupa com a sua beleza diante das câmeras?
Elizabeth Savalla: Infelizmente não, mas deveria, porque isso faz parte também da minha profissão. Eu preciso estar com o corpo bom e preparado para pegar qualquer personagem, em qualquer momento. A Márcia, por exemplo, é uma mulher esquecida, no ostracismo, então eu me permiti estar bem mais gorda para fazê-la. Estou totalmente desprovida de vaidade. Quero deixar claro que não estou fazendo a Rita Cadilac, que, aliás, está muito bem, mas todas as outras ex-chacretes que vi, que estão bem longe de qualquer tipo de charme e glamour. Eu sirvo aos personagens, não à minha vaidade. Eu não estou preocupada em ser a Elizabeth gata, nem mesmo quando era novinha e podia ter esse pensamento.

iG: Aliás, quem é a Márcia de verdade?
Elizabeth Savalla: A Márcia é uma mulher que existe em todos os lugares. Fiz questão de fazer um cabelo crespo, porque todas as mulheres hoje estão escravas de uma tal de chapinha, o que está me dando um trabalho do caracoles, mas eu acho que ela merece. Ela só quer que a filha dê o golpe da barriga para de alguma forma se dar bem. O que aconteceu com as chacretes, com exceção da Rita e algumas outras que se mantiveram na profissão, foi na verdade isso, foram abandonadas pela vida. São mulheres que não tinham preparo intelectual, que normalmente vieram de uma classe mais humilde, e que tinham como única arma a sensualidade, a sedução.

Como foi seu encontro com a Rita Cadilac?
Elizabeth Savalla: Fiquei chocada quando a Rita me falou que essa era a única arma dela, mas acabei concordando. Elas não tinham um pai, nem maridos para defendê-las de uma sociedade extremamente machista. O problema é que essa sensualidade não dura a vida inteira, e quando você fica mais velha e as coisas caem, o que você vai fazer? Vai vender hot-dog na rua, fugir do ‘rapa’... Essas mulheres foram celebridades, muito mais que as dançarinas do Faustão, por exemplo. Elas tinham nomes e sobrenomes. Essas de hoje, tadinhas, são até bonitinhas e dançam bem, mas quem são elas? 

iG: Por que aceitou essa personagem?
Elizabeth Savalla: A minha ideia com a Márcia é prestar uma homenagem a todas as mulheres batalhadoras, que tiveram que ralar para sustentar seus filhos, porque normalmente os homens vão embora. Guerreiras que precisaram usar de tudo para sustentar sua prole. O mundo está cheio dessas mulheres. 



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